Like a Juliet

Seus pés tocavam o assoalho de madeira com delicadeza, enquanto ela sentia com prazer a dor que os movimentos lhe proporcionavam. Seus músculos estavam rígidos, e era possível perceber pela maneira como ela dançava pelo salão. Toda sua graça havia ido embora, e ela dançava como se seus pés tocassem cacos de vidro. Ela absorvia a dor com prazer, ignorando tudo e todos a sua volta.

- Julieta? - O professor de dança lhe chamou uma primeira vez, em uma tentativa frustrada de corrigir seus erros, mas a garota estava tão absorta em seus problemas que mal ouviu suas palavras de auxilio, apenas continuou dançando, enquanto seus pés sangravam. - Julieta! - Ele tentou novamente enquanto agarrava a aluna pela cintura, olhando horrorizado para as sapatilhas manchadas de sangue. Ela dançava a horas a procura da perfeição, mas seus movimentos brutos não seguiam a risca a coreografia. 

- Sim? - Perguntou ela, tão inocente que mal percebera as mãos do homem tocando-lhe a cintura. Ou pelo menos fingira não perceber, Julieta mentia tão bem quanto dançava, mesmo em seus piores dias como dançarina. 

- Você já foi mais graciosa. - Ele disse, segurando seu pulso e guiando-lhe pelo salão, enquanto a menina recomeçava agora com auxilio a dançar. Só quando terminou os últimos passos a dor tornou-se insuportável, e a garota caiu sentada no chão, abafando as lágrimas com ambas as mãos sobre o rosto. - Por hoje basta. - E soltou um longo suspiro, retirando as sapatilhas dos pés da garota e os trocando por algo mais confortável. Não tão aliviada quanto deveria, Julieta levantou-se com dificuldade e rumou para sua casa, que não ficava muito longe do teatro onde sempre dançava. Era uma casa modesta, do tipo que nos dias atuais, acomodariam muito bem os cidadãos de classe média, mas que naquele tempo somente eram concebidas aos melhores empregados das primeiras indústrias. Algumas gotas de suor ainda escorriam pelo rosto da garota, devido ao clima muito quente provocado pelas cadeias de montanhas que rodeavam a cidade. Ela deixou que a água quente lavasse junto com o sangue, toda a dor que sentia, mas como nada nessa vida é fácil, não foi bem assim que aconteceu.

A sensação da água escorrendo por seu corpo podia até ser relaxante, mas em suas costas ainda havia um peso, um peso que nem mesmo ela, uma bailarina tão forte e dedicada podia aguentar sozinha. quando apenas uma fina camisola de ceda cobria seu corpo, ela ascendeu um lampião que ficava próximo a sua cama e tirou de dentro de seu travesseiro todas as cartas de amor que recebera de seu amado, suspirou. Só de lembrar seu nome, seu coração vinha a boca, e as borboletas de seu estômago rodopiavam de excitação. Uma corrente elétrica percorria seu corpo inteiro, ela também sentia medo. Além da casa, também fora concedido a família da garota uma criada, porém esta trouxera consigo do campo um filho. Encarregado das despesas da casa, o garoto mesmo que muito jovem era quem auxiliava o pai de Julieta com qualquer coisa relacionada ao dinheiro, dentre todos os garotos nascidos no campo, Romeu era um dos poucos que sabia ler, então servira muito bem a casa dos Capuleto. Romeu havia ensinado Julieta a ler, e visitava seu quarto toda semana, pouco antes do sol nascer. Ele escalava sua parede e saltava em sua varanda, batendo sempre três vezes em sua janela. Julieta sempre abria, e eles passavam poucos minutos juntos, trocando palavras e caricias de amor.

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